domingo, 14 de agosto de 2011

Intercâmbio - Dia 02 - Tarde e noite de domingo

O Ernani iniciou o trabalho falando sobre o que iríamos fazer no dia de hoje. Ele elaborou um arranjo com estrutura semelhante a o que já fez uma vez conosco com a música “Is Romeo a Really Jerk”, do Kusturica, que tem momentos só instrumentais, e outros só vocais. O barato da história é que ele propôs um arranjo que mistura as duas músicas, a valsinha do Ai, Ai, Ai e o samba do Ói Nóis Aqui Traveiz.

Inicialmente, o Ernani pediu para o Beto, e depois o Joel e o Dudu (tenores), cantarem uma pequena frase musical com a seguinte letra: “Do lá pro si bemol, eu vou pro la, pro la bemol, depois pro sol”. Antes de seguir em frente, fez algumas considerações sobre a ideia da dramaturgia da música, dos caminhos que podem indicar uma frase musical, etc.

Em seguida, trabalhou com os baixos (Marco, César, Eugênio e Renan), cuja frase era “Fico no dó, fico no dó, fico no dó fico no dó fico no dó”. Nas meninas a divisão foi por grupos. As do Ói Nóis cantaram a primeira voz, e as dos Clowns abriram uma terça de Asa Branca. Em seguida, juntou tudo, e foi muito bonito ver todos cantando juntos, e muito bem! Para testar se todos conseguiriam segurar a estrutura, começou a fazer “os Óis” trocarem de lugar entre si, cada vez mais rapidamente, e ainda assim todos conseguiram manter! Por fim, o Ernani explicou que esse arranjo ele fez para o Morte e Vida Severina do Gabriel, e que gostava muito de usar em situações como essa, para fazer um primeiro reconhecimento de um grupo cantando.

O momento seguinte foi o mais lindo do dia. Ao iniciar o arranjo em si, que começa pelo Ai, Ai, Ai, o Ernani pegou os baixos, e o Renan demonstrou muita dificuldade em conseguir atingir notas mais altas, a partir do sol, até o dó que ele precisava. Confesso que em cinco anos de trabalho com o Ernani, jamais havia o visto em um momento de tamanha maestria. O Ernani foi tentando diversas abordagens pra tentar facilitar pra ele (envolvendo o corpo, movimentação pelo espaço, etc.), mas o Renan não conseguia entender o lugar que precisava mexer. O Ernani foi então envolvendo os demais baixos, depois todo o grupo se movimentando pelo espaço, mas nada ainda. Enquanto todos esperavam que novo coelho o maestro ia tirar da cartola, ele seguia tranquilo, assim como o Renan, em busca da nota perdida. Até que o Ernani, brilhantemente, “entendeu” o que tava acontecendo, e recorreu à não menos brilhante Francesca della Monica: voltou ao teclado e colocou o Renan ao seu lado, e começou a fazê-lo, desde o dó da oitava de baixo, subindo nota a nota e “lançando” cada nota mais longe, na ideia e no gesto com o braço. O incrível foi que, mesmo ainda nas notas baixas, já sabíamos que o Renan ia conseguir! E assim foi subindo, nota a nota, cada vez mais distante, até chegar no tal dó! Lindo! O mestre Ernani em plena atuação!!!!

É digno citar também a relação do Renan com a situação. Ao invés de travar ainda mais com o foco todo nele, ou sentir-se pressionado por estar supostamente “atrapalhando o trabalho”, ele manteve-se super tranquilo, disponível, buscando e experimentando. Foi bonito ver isso também!

Depois, o Ernani seguiu com o arranjo, desta vez dividiu as meninas por naipe: Renata, Tânia e Titina contraltos, e Paula, Paulinha, Camille e Marta sopranos. O arranjo foi surgindo e, quando todos pegaram o arranjo – que ficou belo! –, foi hora de transformar a música em samba, pra daí apontar pro Adoniran. O Renan foi pro surdo, e a Titina pro pandeiro. O arranjo então ficou assim: o Ai, Ai, Ai é cantado duas vezes na valsinha, entra o breque e duas vezes no samba. Feito isso, pipi pausa, como diria a Francesca.

O tempo depois da volta do intervalo foi basicamente para ajustar o arranjo, colocar tudo junto (valsa e samba). E ficou belo! O que não é nenhuma surpresa conhecendo o Ernani. Bonito, poético, forte e, principalmente, festivo, celebrativo, terminando nesse grande sambão, essencial pra representar a felicidade desse encontro!

Por fim, batemos um papo sobre esses dois dias de trabalho, e nos despedimos, para levar o Tio Nani ao aeroporto. Grazie mille, Nanino!!!!

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